Paulo Miyasiro: entrevista com o triathleta

Redação Webrun | Triathlon · 05 jul, 2004

Paulo Miyasiro na cidade de Santos (foto: Ivan Storti)
Paulo Miyasiro na cidade de Santos (foto: Ivan Storti)

O triathlon brasileiro terá equipe completa nos Jogos Olímpicos de Atenas, conquista que só outras cinco nações asseguraram. Serão seis competidores, três no feminino e três no masculino. Cinco deles, Carla Moreno, Sandra Soldan, Mariana Ohata, Leandro Macedo e Juraci Moreira competiram na estréia da modalidade na edição passada, em Sydney/2000. O único novato será o santista Paulo Henrique Miyasiro de Abreu, o Shiro, patrocinado pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte) e Pão de Açúcar.

Aos 28 anos de idade e disputando o Circuito Mundial há três, ele garantiu a vaga para estar entre os 50 do Mundo em Atenas na última seletiva, no Mundial deste ano, na Ilha Madeira, em Portugal. Foi o melhor latino-americano, em 13º lugar, posição fundamental para que o Brasil fosse um dos seis países com equipe completa, ao lado de Austrália, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra.

Apontado como um dos melhores nadadores do Circuito Mundial, está confiante num bom desempenho, inclusive com a conquista de uma medalha. Começou a vida esportiva aos 6 anos, na natação, incentivado pelos irmãos mais velhos Zé Henrique, Elide e Cláudia. Depois passou para o biathlon (natação e corrida), novamente levado por Zé Henrique e Élide, que já competiam na modalidade.

Em 95 migrou para o triathlon e logo se destacou, garantindo o título brasileiro júnior. No ano seguinte, confirmava ser um grande talento, mas um tombo de bicicleta o afastou das disputas por três meses. Os acidentes se repetiram em 97 e 98, com fraturas nas mãos. Voltou com força total em 99 e desde 2002 vem se dedicando quase que exclusivamente ao Circuito Mundial, visando Atenas. No ano passado participou dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, ficando em 6º lugar (chegou a liderar a disputa).

Neto de japoneses é calmo, tranqüilo, características herdadas da descendência oriental. É formado em Direito, mas antes de advogar, o triathlon falou mais forte. É treinado pelo técnico Marcos Paulo Reis e auxiliado pelo amigo e ex-triatleta Emerson Gomes. Já na natação, onde é um dos mais velozes do Circuito Mundial, recebe treinamento do coordenador do CT Monte Serrat e Academia Unimonte, José Renato Borges, o Mosquito, que já disputou seis vezes o Ironman do Havaí e é responsável pela revelação de vários talentos.

Confira nos links abaixo a entrevista com o atleta olímpico.

Você é o único novato do triathlon brasileiro em Atenas. Isso muda algo? Incentiva mais?
PAULO MIYASIRO, O SHIRO – Significa que é renovação, que sempre tem de ter numa equipe. Esse ano só fui eu, dos seis que vão. Vou no lugar do Armando Barcellos. Apesar de olimpíada ser uma prova diferente, especial, acho que não muda muita coisa, porque já corro o Circuito Mundial, ao lado de todos que estarão lá.

Conversou com os outros atletas da equipe sobre como é disputar uma olimpíada? O espírito olímpico?
Shiro- Converso mais com o Leandro. Ele sempre dá uns toques sobre treino. Mas sobre Jogos Olímpicos, especificamente, não conversei. No Pan (Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo) já foi bem legal, diferente. Já deu para sentir o clima, ficando na vila olímpica. Olimpíada, então, imagino que seja uma coisa muito maior. Vai ser fantástico.

Já pensou como vai ser a emoção na hora da prova? Se vai dar o famoso “frio na barriga” na largada?
Shiro – (Risos). Em matéria disso eu não fico muito nervoso em prova, na hora da largada. Não sei. Vamos ver como vai ser na olimpíada. Pode ser que seja diferente do Mundial. Mas vai ser emocionante sim. O Mundo todo vendo, o pessoal daqui torcendo. A prova vai ser ao vivo. Tem de pensar em fazer o meu melhor no dia.

Fazer o melhor significa tentar a medalha?
Shiro- Com certeza. Eu classifiquei, foi duro. Agora, o objetivo é a medalha. Se deixarem, vou beliscar.

Você já disputa o Circuito Mundial há três anos, acredita que tem chances reais de pódio?
Shiro- Medalha é difícil para todos. Mas é o que eu falo. Triathlon hoje em dia não tem muito favorito. Qualquer um pode vencer. Medalha então, são vários que têm chance. Não dá para destacar os favoritos. Quem está indo, vai estar bem, vai estar com chance. Então por que não acreditar em medalha?

O que vai definir a vitória em Atenas?
Shiro- O ciclismo vai ser bem determinante. Vai ser um percurso bem duro, técnico, mas com certeza o que define é a corrida. O ciclismo vai ser seletivo. Quem não estiver pedalando bem, vai sair para correr com as pernas bem cansadas.

E como você está nesse quesito?
Shiro- Treinei bem o ciclismo, principalmente subidas. Ultimamente tenho estado sempre no pelotão da frente. Estou treinando bastante, bem forte, estou na época pesada de novo. Fiz uma pequena base.

Se ganhar a medalha, tem alguém especial a quem vai dedicar?
Shiro- São várias pessoas, principalmente a galera de Santos, que sempre esteve do meu lado, me ajudando, incentivando, até hoje. O pessoal da antiga, mas vai principalmente para duas pessoas que já estão lá em cima. O meu avô, o Mata Vaca (João de Abreu Faria), que faleceu no final de junho, e minha avó, Matsue, que sempre estava nas provas junto comigo. Os dois sempre estiveram ali. Meu avô, inclusive, era staff das provas do Núbio. Adorava. Minha avó também. Ela podia estar mal, saia do hospital para ir ver e depois voltar a ser internada. São as duas pessoas que sempre estão na minha cabeça e que sei que vão estar bem perto de mim lá.

Acha que por ser neto de japoneses herdou a calma, uma das principais características dos orientais?
Shiro- Sou bem calmo. Isso ajuda muito. Na hora da largada, na hora de prova, não fico ansioso, nervoso. Sou bem tranquilo. Talvez venha mesmo da cultura oriental de ser mais calmo, quieto, frio. Acho que herdei um pouco disso.

Como foi a conquista da vaga olímpica?
Shiro- Foi bem duro. Igual ao Pan, quando fui para a Guatemala. E a seletiva olímpica não foi diferente, foi na última prova, no Mundial, que era a mais importante, e deu tudo certo. Estava muito concentrado. Sabia que era tudo ou nada. Na minha cabeça só estava a vaga, todo o esforço que já tinha feito. Acho que tudo o que tracei e todos os meus objetivos até agora deram certo. Tenho só de agradecer. Essa vaga foi bem dura, porque eram quatro brasileiros com chances e um da equipe saiu. Justamente foi o Virgílio (de Castilho), que é muito amigo meu, desde o começo do triathlon e tem a minha família como sendo a dele também. O Juraci e o Leandro correm o Circuito. Estamos sempre juntos e um sair é triste.

E com a conquista da vaga, o que mudou?
Shiro- Tive reconhecimento. Financeiramente não mudou nada (risos). Foi legal ver a felicidade do pessoal que acompanhou tudo de perto. Não foi fácil. Não foi da noite para o dia, não caiu do céu. Foi algo que lutei muito, que queria demais. Uma vitória pessoal. Então o pessoal reconhece.

Olimpíada é o sonho de qualquer esportista. Quando começou a amadurecer a chance real de estar em Atenas?
Shiro- Quando comecei, pensava só em fazer triathlon. Naquela época o triathlon estava querendo entrar numa olimpíada. Daí, quando foi incluído em Sydney, em 2000, eu disse que tinha de estar na próxima. Praticamente naquele ano comecei a treinar sério e objetivei esse sonho. Foram etapas que eu fui passando, pulando, até conseguir patrocínio para correr o Circuito Mundial e quando comecei que eu vi que eu tinha reais chances. Foram três anos de batalha, buscando o sonho. Claro, que desde criança, quando fazia natação sonhava em estar numa olimpíada. Qual é o atleta que não almeja isso? E me sinto realizado com esse objetivo alcançado.

Como foi o início de sua carreira?
Shiro- Comecei na natação, desde pequeno. Nadava junto com os meus irmãos na Santa Cecília, na época do Bagdá. Depois comecei a fazer biathlon, no circuito do Núbio de Almeida, o São Paulo Open, em 93, mas não treinava especificamente. Só nadava. Em 95 eu fui para o triathlon e aí comecei a treinar mesmo ciclismo, corrida. No final de 96 já tinha até corrido etapas do Mundial. Foi bem rápida a minha projeção, porque fui campeão brasileiro e eles queriam levar um júnior para o Circuito. Em 96, 97 e 98 aconteceram algumas coisas. Eu cai de bicicleta, quebrei a clavícula, fraturei a mão duas vezes. Daí, em 98, quando acabei a faculdade, pensei, agora vai dar para treinar bem, vou tirar uns seis meses para ver se vou conseguir sobreviver do triathlon ou vou seguir a carreira de advogado. E deu tudo certo. Como falei foram etapas e fui numa crescente que estou até agora.

E você chegou a advogar alguma vez?
Shiro- Não. Só me formei e praticamente nem fiz estágio. Só os obrigatórios. Me formei, mas é uma coisa que não tem muita ver comigo. Ano que vem estou querendo fazer outra faculdade. Talvez eu estude Educação Física na Unimonte. Alguma coisa ligada mais ao esporte, à área de saúde.

Já pensou o que vai fazer depois de Atenas? O que vai mudar?
Shiro- Sei que depois dos Jogos vou querer umas férias, porque esses anos foram bem duros, mental e fisicamente. Ainda vou ver como vou voltar de Atenas. Se chegar com a medalha, sei que muita coisa vai mudar, mas só de ir é um sonho pessoal realizado, bem antigo, que não tem dinheiro que pague.

Data de nascimento 07/ 06/ 1976

Comida preferida nada de especial, mas gosto de comida japonesa. Não gostava antes.

Bebida sucos

Se não fosse triatleta adorava jogar futebol, mas não tinha talento.

Lazer adoro jogar futebol, brincar, mas não tenho tempo. Acho que não jogo há dois anos. Passando a olimpíada vou jogar um pouquinho. Tem também o vídeo-game.

Outros esportes além do triathlon – acho que gosto de todos. Não tem um especial. Judô, ciclismo, atletismo, natação, principalmente os que estive envolvido.

Ídolo no esporte adoro quando um brasileiro se destaca num mundial, olimpíada. gosto muito do Joaquim cruz, pelo jeito dele dentro e fora do esporte; o Ayrton Senna marcou muito.

Ídolo na vida minha mãe (elisabeth), que sempre me ajudou muito e está comigo até hoje.

Família é tudo. Não só a de casa, mas meus tios, primos. a família é bem unida e todos sempre estiveram me apoiando. é sempre uma grande festa em casa.

Um sonho medalha olímpica. Era uma olimpíada. Agora é a medalha.

Uma decepção até hoje não tive. Tudo o que acontece tem um motivo e são provações que temos na vida.

Este texto foi escrito por: Fábio Maradei

Redação Webrun

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